Meu filho tem as pernas tortas?
Essa é uma das preocupações mais frequentes dos pais ao procurar um ortopedista. Essa dúvida geralmente surge por comparar as pernas do filho com as de outras crianças.
Na enorme maioria das vezes a resposta do ortopedista pediátrico será: “Isso é normal, será corrigido com o tempo!”. No entanto, essa resposta, sem outras explicações pode ser muito superficial e insuficiente para pais e familiares que, por falta de segurança, frequentemente procuram outras opiniões e podem acabar levando seus filhos a tratamentos desnecessários. O objetivo desse texto é esclarecer alguns desses pontos.
O primeiro, e mais importante, conceito a ser entendido: o desenvolvimento de cada criança é único, ou seja, cada uma delas tem as suas peculiaridades e evoluiu em seu tempo particular. As comparações com outras crianças em geral apenas gera dúvidas e não é confiável se feito isoladamente. Cabe ao médico identificar crianças cujo desenvolvimento se afaste muito da variação da normalidade para diagnosticá-las corretamente.
Angulações dos membros inferiores
O termo popular “pernas tortas” na verdade engloba dois tipos de anormalidades:
- Joelhos varos: as pernas assumem este aspecto ∩ (para quem se lembra das aulas de matemática, este é o símbolo de intersecção) – os joelhos se afastam e os tornozelos se aproximam
- Joelhos valgos: pernas tem formato de “X” – os joelhos se aproximam e os tornozelos se afastam
Essas angulações são esperadas no desenvolvimento das crianças. Por volta dos 7 anos, os joelhos assumem a angulação considerada normal (há um leve valgo residual). Segue um gráfico com as angulações esperadas para cada idade.
Outras angulações importantes
Alterações torcionais são muitas vezes associadas às angulações dos membros inferiores. Elas são:
Rotação dos quadris – os quadris apresentam rotação em relação ao plano do restante do fêmur e joelho, isso ocorre para que essa parte do fêmur acompanhe a angulação da bacia. Chamamos de anteversão e há variação conforme a idade e gênero.
“Toe in” e “Toe out”- sem uma tradução adequada para o português, poderiam ser chamados de “pés para dentro” e “pés para fora”. São variações rotacionais dos membros inferiores que literalmente posicionam os pés para dentro ou para fora. Popularmente o aspecto de “pés para fora” é conhecido como “dez para as duas”, em alusão aos ponteiros do relógio neste horário. Embora a denominação seja dos “pés”, raramente são alterações destes, mas sim rotações da tíbia e/ ou do fêmur. Na maioria das vezes são variações normais.
Quando devemos nos preocupar?
Nem todas as angulações são normais. Alterações muito acentuadas, ocorrendo além da idade esperada, que provoquem dor ou limitem atividades como caminhar e correr devem chamar a atenção. Doenças como o raquitismo (confira o artigo sobre raquitismo), doença de Blount ou displasias esqueléticas podem causar alteração na angulação normal dos membros inferiores.
Avaliação e tratamento
Na suspeita de uma angulação anormal, deve-se procurar um médico, preferencialmente um com especialização nas particularidades da infância. A avaliação clinica inicial do pediatra e do ortopedista pediátrico é fundamental. Nela são feitas hipóteses de diagnóstico que vão guiar toda a investigação. Inverter essa ordem (realizar primeiro os exames de imagem e posteriormente ir à consulta) é perigoso por gerar ansiedade e muitas vezes induz ao diagnóstico errado.
Exames laboratoriais e radiografias devem ser solicitados quando na suspeita de uma angulação patológica. O tratamento é individualizado ao paciente de acordo com a causa que levou à angulação, podendo variar desde o acompanhamento clínico para avaliar evolução e desenvolvimento ou até mesmo cirurgias corretivas.
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